sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Amar (Carlos Drummond de Andrade)

AMAR

(Carlos Drummond de Andrade)


"Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o amar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o áspero,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho,

e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."

Carlos Drummond de Andrade

Se todas as criaturas prestassem mais atenção ao lêem esse poema, e tentasse colocar em prática com mais afinco esse verbo “AMAR” o mundo seria muito melhor. È preciso mais que saber conjugar o mesmo, é preciso o exercício de praticá-lo.
Afinal, estamos nesta vida para amarmos e sermos amados nada, além disso.



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